Somos Nós: Suzana Nobre
Eu quero sair daqui!
Eu quero sair daqui!
Eu quero sair daqui!
Como manter-me a trabalhar em Óbidos, uma terra que recebe milhares de turistas por dia!!!?
Não que tenha contacto directo com eles, mas só o facto de saber que respiramos o mesmo ar… Que contacto com pessoas que contactam com eles!
Eu quero sair daqui!
Fui das primeiras a vir para casa, na 6ª feira, 13 de Março de 2020. E por cá continuo.
Passados 5 dias tive de ir buscar o meu filho que chegou da Bélgica. Fizemos os 14 dias de isolamento profilático. O pai dele trazia-nos os víveres. E assim ficámos, eu em teletrabalho, ele a desesperar.
Nos primeiros tempos ainda via notícias. Andava em pânico! Deixei de ver. Não vejo notícias há 3 meses. Vou sabendo do que se passa no mundo pelos pop-ups dos jornais online que assino ou por posts de Facebook de amigos. Só vejo mesmo isso. Raramente vejo a notícia inteira.
Só voltei a sair passado um mês e meio. Acho que já estava a precisar… Uma caminhada no bairro, com luvas e máscara. Chegada a casa, roupa para lavar, lavar as mãos. Já estou em casa! Estou salva!
O confinamento não me custou absolutamente nada, pelo contrário. É um sonho tornado realidade, trabalhar em casa. O trabalho que desenvolvo pode ser feito de qualquer parte do mundo. Porque não da minha casa? Trabalhei mais e melhor, pelo simples facto de não ter distracções, não ter de ir fumar à rua (sou fumadora compulsiva!!!). As reuniões não duram horas, o zoom só permite 40 minutos, pelo que todos dizemos, mesmo, o absolutamente essencial para que o trabalho prossiga. Vi mais as minhas colegas (que não estão no mesmo espaço físico que eu) do que quando estávamos em Óbidos. E desenvolvemos todas as nossas tarefas numa verdadeira rede, o que não acontecia antes.
Não se distinguem os dias. Todos os dias são de trabalho. Que mais temos para fazer? Mas já era assim… Se estava de fim de semana e via um email ao qual tinha de dar resposta, dava, ou se estava a trabalhar num projecto com determinado prazo, as tarefas eram executadas de forma a que fosse cumprido. Logo, a única diferença é que não ia para Óbidos de 2ª a 6ª. E, sinceramente, não me fez falta nenhuma.
Se tenho saudades de lugares e de pessoas? Tenho! De alguns lugares e de muito poucas pessoas. Dos meus lugares preferidos que estão fechados. De menos de 5% das pessoas que conheço. Se calhar, sou mesmo um bicho do mato!
Fui mantendo o contacto pelas redes sociais com a maioria e com telefonemas e vídeo chamadas com as mais importantes. De facto, a vídeo chamada tornou-se o telefonema. Já não é só importante falar e ouvir a pessoa, mas vê-la. Afinal, não sei quando a voltarei a ver presencialmente! Ensinei o meu pai de quase 80 anos a receber uma chamada de vídeo do Facebook!!! Uma verdadeira revolução!!!
No trabalho, igual. Já não nos telefonamos. Tele conferenciamos. Existe a necessidade de ver as pessoas.
Acabado o estado de emergência, as pessoas voltaram a sair. Eu, também! Fui à minha praia. Sozinha. Com máscara. Longe de todos. E foi muito, muito bom. Também fui à minha esplanada. Com máscara. Eu e os outros que lá estavam. Separados por metros de distância. Se me descansa? Não! Mas não podemos viver o resto da vida em casa…
Fui ver o meu pai. Tão estranho, não nos abraçámos nem beijámos, como costume. Esta sim, é uma grande diferença!!! Gosto de dar abraços e beijos a quem gosto. Mas agora, nem sei como deva agir. Uma coisa que era tão natural, que significava, gosto tanto de ti! Ficamos sem jeito! Eu e os outros!
Com o desconfinamento começam a surgir os convites para socializar. Escolhas muito difíceis! Será que aquela pessoa é de confiança? Tem estado em casa? E estando em casa, que visitas recebe? Não será um foco de contaminação?
Por mais que se queira sair, estas questões não nos saem da cabeça. Há que ponderar muito bem com quem vamos sair!
Sim! Estamos presos à hipótese de apanhar o vírus!
Estamos a 7 de Junho. Tudo indica que mais dia menos dia terei de voltar para Óbidos. É esse o meu maior problema. Como voltar para uma terra que depressa se encherá de turistas vindos de todo o mundo, com um vírus que, em bom rigor, ainda ninguém compreendeu como se dissemina, que tempo tem de incubação, como afecta as pessoas…
Eu não quero! A minha vidinha podia manter-se assim.