Somos Nós: Adriana Dourado e Paulo Oliveira

"Colhemos o que plantámos: numa época em que o feed perfeito de instagram era a nossa maior ambição e os nossos egos altíssimos não sabiam o valor da liberdade, o mundo surpreende-nos e tudo o que achávamos que sabíamos era agora, nada.

Corríamos todos de um lado para o outro e não havia tempo para o próximo, o consumo era soberano e gastávamos tudo em coisas tão desnecessárias, um vírus vem lembrar-nos que tudo é efêmero.

Que este tempo de incertezas e privação de costumes e rotinas possa ser também um tempo de reflexão própria, um salto de consciência para uma vida com um significado e uma ambição maior. E no fim de tudo isto reflitamos, quem será cada um de nós depois da quarentena?

Cruel. É a palavra que descreve o quão duro foi ficar para trás quando todos fugiram para a sua cidade natal, para junto das suas famílias e eu por outro lado tive de me manter na cidade onde estudo não sabendo por quanto tempo iria ficar numa casa que não é a minha, para que pudesse proteger os meus avós (com quem vivo) de qualquer risco de contaminação possível. A janela manteve-se fechada por dias. O medo, a ansiedade e o caos instalaram-se cá dentro. As aulas passaram a ser on-line, frequentei-as de pijama e com os dentes por lavar uma realidade que nunca imaginei ser possível, até o ser. As ruas ficaram vazias. A ansiedade apoderou-se de mim. Ao longo de todo este tempo, que parecia ser interminável, aprendi a processar todo este caos e tornei-o em algo proveitoso. Aprendi que estar só não é tão mau quanto parece. Houve espaço para refletir, para respirar e para me (re)encontrar de novo." - Adriana Dourado

"Eu olho para o confinamento como uma forma de encontrar algum descanso mental e físico, tornar tudo isto numa paragem positiva em que todos pudemos transformar a infinidade de tempo que agora tínhamos em algo que sempre quisemos fazer, mas que por conta da rotina viciosa do nosso dia a dia acabávamos por colocar de lado. Sempre fui uma pessoa bastante ativa e o tempo que tinha para me dedicar às pequenas coisas boas da vida era muito escasso. Agora, através de casa posso finalmente dedicar-me à cozinha, algo pela qual sempre tive uma enorme paixão. Faço questão de abrir a janela todos os dias para que não nos falte a luz. Agarro-me ao fogão e os dias ganham um bocadinho mais de cor. Os vizinhos param e muitas das vezes provam o petisco que preparo. Os dias cinzentos já foram. Agora, é aqui que aproveitamos para nos dedicar a algo que não tínhamos tempo, sentarmo-nos à mesa, juntos. E é Juntos, que nos mantemos à espera do dia em que possamos regressar em segurança. Está quase!" - Paulo Oliveira

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