Somos Nós: Inês Severino

Este tempo de confinamento devia ser usado por todos nós para reflectir sobre nós próprios e a nossa relação com os outros. Ser um pouco mais empáticos com os outros e perceber que nem todos têm o nosso privilégio de ter uma casa com condições ou de ter um tecto que lhes permitem estarem seguros. 

Sejam mais para os outros e pensem mais num colectivo e não como um só. Não pensar tanto no 'eu' e pensar mais no que se passa à nossa volta e no mundo que nos rodeia. Não só naquilo que se consegue ver próximo de nós, mas também no que está escondido, nas pessoas que têm dificuldades, que não têm condições de vida básicas e que lhes é muito difícil sobreviver com este confinamento.

Podemos reflectir sobre isso e questionar sobre o sistema em que vivemos, que de todo não é o melhor. O capital não vale mais que uma vida nem vale mais do que o planeta em que vivemos, e por isso, temos que aprender a viver de outra forma. Trabalhar para um sistema mais justo  que respeite a nossa 'casa' e os seus outros habitantes. Alterar algumas das nossas formas de ver, de consumir, e de estar, para que pandemias como esta não continuem a surgir de uma forma ainda mais grave.

Temos de estar cada vez mais atentos porque esta pandemia tem aberto ainda mais as portas ao populismo. Esta nova situação está a ser usada por pessoas oportunistas, com sede de poder, para levar atrás de si com um discurso ridículo - que a mim me parece tão ridículo e óbvio - pessoas que não sentem a essa tal empatia pelos outros, que não conseguem ver mais além de si.

A dificuldade está no pensar. Observar as coisas como elas são, ver o que acontece realmente à nossa volta e não aquilo com que somos constantemente bombardeados, seja na comunicação social, publicidade, redes sociais... e que nos faz não querer saber. Ao não pensar, deixamos entrar este discurso vazio, que vive de reprimir "os outros" para benefício próprio. E são principalmente "os outros" que têm mais dificuldades e menos privilégios que são mais  vulneráveis. 

Eu, neste momento, mesmo que seja de incerteza e de contenção (principalmente financeira), sinto-me privilegiada no sentido em que tenho, por agora, as condições necessárias para conseguir viver dignamente com o meu amigo Ni, que se tem deliciado com um passeio diário e com a minha presença constante em casa.

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