A mítica 50mm e os seus desenganos
Quem está a começar na fotografia precisa de uma 50mm?
A resposta é não! E sim! E talvez…?
Das primeiras coisas que quem começa a aprender fotografia ouve, depois de comprar a primeira câmara, é que precisa de uma objectiva 50mm. Há várias razões para isto. São muito luminosas, leves, e costumam ser mais baratas quando comparadas com a maioria das objectivas. Tudo isto é verdade. A abertura destas objectivas é bastante mais luminosa que a da maioria das objectivas que vêm em kit com máquinas fotográficas e isso faz uma grande diferença na estética das nossas fotografias. Principalmente na nossa capacidade de desfocar distracções na imagem. O peso ser pouco ajuda a tornar o acto de fotografar mais divertido. O look é único.
Mas precisamos mesmo de uma?
A julgar pela quantidade de artigos online que recomenda uma 50mm para todos os fotógrafos, independentemente da sua câmara, parece que sim! São leves, são “baratas” e todos os fabricantes têm uma.
Mas obviamente não há uma resposta só para esta pergunta. As 50mm têm uma longa tradição de uso no fotojornalismo, sendo fiáveis, versáteis e leves: a companhia ideal para quem carrega material um dia inteiro. E aqui nasce esta confusão com as 50mm. No fotojornalismo da década de 1940 em diante o formato de câmara usado era o de rolos fotográficos de 35mm. Cada negativo tinha uma dimensão de 24x36mm e este formato permanece em uso ainda hoje, nas câmaras full-frame. Nos dias de hoje esse lugar no fotojornalismo permanece, muito menos prominente, mas as 50mm encontraram outros lugares onde podem brilhar, especialmente a fotografia de casamento.
Contudo, na actualidade, quando se está a começar normalmente não se investe imediatamente numa câmara full-frame -são bastante mais caras- mas sim numa câmara com sensor um pouco mais pequeno, chamado sensor crop. O sensor crop por norma tem as mesmas proporções do sensor full-frame, mas é bastante mais pequeno.
Na prática isso significa que usando a mesma objectiva, a câmara com sensor mais pequeno vai mostrar um ângulo de visão mais apertado, dando a ilusão de aproximar mais as coisas de nós do que veríamos ao colocar essa mesma objectiva numa câmara full-frame. E também significa que pagámos bastante menos pela nossa câmara que se comprássemos full-frame.
Assim, o ângulo de visão das 50mm (47º), tão versátil, acaba por não ser o que a maioria dos fotógrafos principiantes vê. Na realidade vêem algo entre os 75mm e os 80mm (30º). Isto significa que temos um ângulo de visão um tanto mais apertado do que aquele a que os fotojornalistas e artistas tanto elogiam. E muito menos prático no dia a dia, também. Porque a grande vantagem das 50mm é mesmo a sua versatilidade. O ângulo de visão que apresentam não é demasiado fechado nem demasiado amplo, cai ali no meio perfeito entre os dois. Ao colocarmos a objectiva numa câmara crop, perdemos esta característica.
E isto é um problema porque acaba por roubar espaço para manobrar. Não conseguimos fotografar com ela dentro de casa, ou em espaços mais apertados.
Ora, este artigo todo não seria tão extenso sem uma solução alternativa mais prática para quem tem câmaras crop!
E a solução passa por encontrar outra objectiva que nos sirva o mesmo propósito. A boa notícia é que elas existem! Existem no mercado objectivas com um ângulo de visão equivalente aos 50mm em full-frame, e igualmente luminosas.
Para isso, é preciso olhar para o que os fabricantes disponibilizam para os seus sistemas, e o que outros fabricantes como a Sigma, a Tamron ou a Samyang têm de oferta, normalmente um pouco mais em conta que a oferta do fabricante original. Em muitos casos existem várias ofertas, para vários poderes de compra.
Por isso, ao contrário do que muitos artigos em revistas e sites sugerem, o que poderá beneficiar mais o fotógrafo iniciante não é uma 50mm, mas sim uma outra objectiva com as mesmas características e que ofereça o mesmo ângulo de visão.
Existirem vários fabricantes significa vários tamanhos de sensor. Existem fórmulas para descobrir o equivalente para cada fabricante. Sem vos fazer perder muito tempo, para descobrir a objectiva de que precisam, basta dividir 50(mm) pelo factor crop da vossa câmara. Para Sony, Nikon e Fujifilm, esse factor é 1,5. Para Canon é 1,6 e para Olympus é 2. Assim temos:
Sony, Nikon e Fujifilm: 50/1.5 = 33.3333…
Canon: 50/1,6 = 31,25
Olympus: 50/2 = 25
Assim basta procurar objectivas cuja milimetragem andem por volta destes valores. Preparados para uma seca com nomes técnicos inescrutáveis?
A Sony tem várias, como a 35mm f1.8 OSS E, a mais refinada Zeiss Distagon T* FE 35 mm F1.4 ZA, ou objectivas de outras marcas como a Sigma, que produz a 30mm 1.4 DC DN Contemporary de alta qualidade e preço razoável. Ou, da Samyang, as suas duas 35mm, AF 35mm F1.8 FE e AF 35mm F1.4 FE.
A Nikon tem, para as suas DSLR a sua AF-S DX NIKKOR 35mm f/1.8G, e também tem, da fabricante Sigma, as 30mm f/1.4 DC HSM Art e 35mm F1.4 DG HSM Art, mais cara e pesada. Também existem, para Nikon, as SP 35mm F/1.8 Di VC USD e SP 35 mm F/1.4 Di USD da Tamron, esta segunda um pouco mais cara que a primeira mas também um pouco mais luminosa.
A Fujifilm produz para o seu sistema X duas 35mm de altíssima qualidade, uma com abertura f1.4 e a outra f2.
Para o seu sistema Canon EOS M, a Canon produz a sua EF-M 32MM F/1.4 STM, de alta qualidade óptica. Para as suas DSLR temos, da Sigma, as 30mm f/1.4 DC HSM Art e 35mm F1.4 DG HSM e da Tamron as SP 35mm F/1.8 Di VC USD e SP 35 mm F/1.4 Di USD.
Quem fotografa com Olympus tem à disposição duas objectivas 25mm, a M.Zuiko Digital 25mm F1.8 e a outra, bastante mais pesada mas também relativamente mais luminosa, M.Zuiko Digital ED 25 mm F1.2 PRO, para carteiras um pouco mais cheias. E, da Sigma, a sua 30mm F1.4 DC DN Art mais perto de equivaler a 60mm, mas ainda assim relativamente próxima dos 50mm e, assim, digna de se mencionar aqui.
Deixo de parte as objectivas de foco manual por acreditar que para quem está a começar e até mesmo para profissionais uma objectiva de foto automático é bastante mais prática. Algumas fabricantes incluem até nos seus sites a referência às suas objectivas serem equivalentes às 50mm, o que ajuda a nossa escolha. Por exemplo, no site da Olympus, temos a referência:
“Com uma distância focal de 25 mm (50 mm*) e um ângulo de visão de 47°, esta objetiva de qualidade superior e distância focal padrão é ideal para uma vasta gama de fotografia.”
— Olympus
Em conclusão, é claro que uma objectiva não faz o trabalho todo e não nos põe na rua a fotografar, mas pode servir de motivação para uma criação artística mais aprofundada e para uma nova forma de expressão que as objectivas kit simplesmente não conseguem oferecer.
E com uma destas objectivas (e não uma 50mm das full-frame) terão, certamente, uma experiência muito mais divertida e cómoda, mais próxima do desejado.
Precisamos mesmo de uma 50mm? Eu preciso!
Bons cliques!