Somos Nós: Vasco Trancoso
Durante a presente Pandemia tem sido frequente ouvirmos a palavra “Pause”. Referida à Humanidade, à Economia, ou às pessoas confinadas nas suas casas. Escreve-se e diz-se: tudo parou! Mas será que, ao ficarmos isolados no domicílio, estamos realmente em modo de “Pausa”? Ou será que afinal arranjamos maneira de manter o ritmo anterior ziguezagueante de funcionários da vida – adaptando-o às diferentes rotinas e tarefas que estabelecemos dentro das nossas habitações? Será que andamos a “picar o ponto” para ir à cozinha controlar o frigorífico e os mantimentos, ou à sala da televisão ouvir diariamente o ponto da situação feito pela DGS, ao computador para mergulhar nas redes sociais ou respondermos a mensagens e e-mails, à varanda para fazer ginástica, levantar e deitar a horas certas, etc.?
Podemos comparar esta atitude com aquilo que muita gente sente quando inicia férias e ainda vem com a “pressa” do emprego na cabeça e, durante alguns dias tem alguma dificuldade em adaptar-se a um modo mais lento - como se estivessem a pedalar naquelas bicicletas que andam quilómetros sem sair do mesmo sítio.
Neste novo confinamento há que optar por continuar a fazer “zapping” em casa tal como dantes ou carregar no botão “Pause” a sério. Depois da apresentação em Janeiro e Março do meu livro de fotografias “99” houve que adiar (outra “pausa”) vários eventos / lançamentos que estavam agendados, marketing e distribuição.
Em consequência deixaram de temporariamente existirem “deadlines” ou agendamentos marcados bem como fazer fotografia de rua como dantes. Tive pois, a oportunidade de (re) aprender a fazer uma outra pausa. Uma pausa em que quase desligamo-nos da televisão ou do computador e observamos melhor os detalhes em volta. Aprofundarmos o nosso pensamento com um ritmo mais lento e “humano”. Meditamos, olhamos o horizonte da janela e descobrimos a ausência de velocidade. Sobretudo passamos largo tempo connosco próprios de braço dado com os silêncios da casa. Saboreamos não ter pressa e o fazer nada enquanto apreciamos os reflexos do pôr-do-sol na parede da sala. Embarcar na cápsula do nosso próprio tempo e navegar pela vibração do dia-a-dia. Reflectir, escrever, desenhar, pintar e ou ler. Devagar. Desacelerando dentro de nós como quando abraçamos uma árvore. Pausadamente. Como se estivéssemos deitados no campo a olhar as nuvens e a ouvir os pássaros.