Somos Nós: Bruno Barata
CONFUSÃO / ADAPTAÇÃO / RENOVAÇÃO
Olha!! E, de repente, o mundo parou!!
Eu, que sempre fui fã de cenários de ‘improbabilidades’ enquanto ficção e ponto de partida para reflexão, assisti com surpresa à materialização de um conceito que, embora com causas diferentes, deu origem a uma das minhas séries favoritas de sempre, de seu nome ‘Flashforward’. Também aí, um acontecimento inesperado faz parar o mundo por momentos e, de repente, quando retomamos as nossas vidas, percebemos que nada mais vai ser como antes.
Primeiro, a Confusão…
Os chineses estão a enganar-nos com os casos e mortes? Posso ou não posso apertar-te a mão e abraçar-te? Esta Graça Freitas até tem piada, com aquele ar de avozinha, mas afinal é preciso máscara ou não? Devo ou não devo fechar-me em casa? Céus, como aquilo está em Itália!! Devo fazer como os outros e correr a esvaziar prateleiras de supermercado como se não houvesse amanhã, num cenário digno de qualquer ‘Ensaio Sobre a Cegueira’?
Depois, a Adaptação…
Com tanta informação para lidar ao mesmo tempo, e passados aqueles primeiros dias de pânico e confusão, acabei por tomar a decisão pessoal de desligar dos números, e passar a seguir as notícias apenas à distância. O foco passou aí por adaptar a vida a novas circunstâncias, como teve de se adaptar a de tantas outras pessoas, e com responsabilidades acrescidas…
Aprender como conseguir readaptar rotinas do trabalho que é, no meu caso, eminentemente um esforço de de equipa e entre equipas, à comunicação e interacção à distância, foi um dos primeiros desafios, e recordo com algum humor a partilha que cada um de nós fez do seu novo ‘escritório’ em casa. Com o esforço e boa-vontade de todos, conseguimos felizmente continuar a desenvolver os nossos trabalhos e assim conseguir dar a nossa pequena contribuição para que o país não parasse por completo.
Aprender a ser “professor” terá sido talvez a tarefa mais dura. Habituados que estávamos a entregar as nossas crianças a uma escola que tão bem trata delas, vermo-nos confrontados de repente com aulas à distância e horários cronometrados, com múltiplas plataformas onde aceder, buscar e enviar informação, datas de entrega de trabalhos, ajudar a fazer experiências, trabalhos ter de expressão plástica, servir de explicador e motivador lembrando constantemente que o facto de estar em casa não significava estar de férias, e tudo isto cumulativamente com o nosso trabalho, foi uma experiência que eufemisticamente vou classificar como… INTENSA!!!
Seja como for, é de louvar o esforço de todos o envolvidos no processo, pois não ouso sequer colocar em dúvida que todos deram o seu melhor. Mas a experiência serviu claramente para perceber que a Escola assim não funciona! Não apenas pelo condicionamento que traz às famílias, mas principalmente pelo aniquilar do papel social da Escola, o qual, em termos pessoais, considero tão ou mais importante que a componente lectiva para a formação e educação dos nossos filhos enquanto indivíduos.
Agora, a Renovação…
Não. Não sou daqueles que defende a teoria de que a pandemia foi o meio que o Planeta encontrou de nos dizer que temos de parar. Não! Também não acho que seja uma campanha orquestrada pelos senhores do mundo para nos dominar pelo medo… Não!
Mas atenção… acho que foi/é/será, sim, uma excelente oportunidade de abrandar e reflectir sobre certos aspectos, e concluir que há várias coisas que, por um lado, devem acontecer e, por outro lado, não podem mesmo acontecer.
Os reais e súbitos impactos positivos da paragem do planeta sobre os níveis de poluição atmosférica, do solo e da água fizeram-nos perceber o quão importante é pararmos de esticar o planeta ao limite. Não defendo que o mundo tenha de parar de vez e tenhamos de retornar padrões de vida de há décadas ou séculos atrás. É simplesmente utópico pensar que iríamos neste momento conseguir convencer quase 8 mil milhões de almas a fazê-lo de um momento para o outro. E eu, pessoalmente, tendo a desmotivar um pouco diante das utopias…
Agora há é que aproveitar a onda para criar um movimento, que se quererá obviamente tão abrangente quanto possível, em que cada um de nós no mundo terá de assumir que tem um papel… quer enquanto cidadão, vivendo de um forma contida na utilização de recursos, quer enquanto educador, orientando os nossos para estes princípios e para a busca de uma vida dentro dos critérios de partilha e colaboração com a natureza, quer enquanto profissional, tentando cada um de nós, no desenvolvimento da sua actividade, contribuir para que a mesma optimize os recursos que tem à sua disposição, minimize pegadas de carbono e caminhe no sentido de uma cada vez maior sustentabilidade. E isto, meus amigos… TEM MESMO DE ACONTECER!!
Por outro lado, mesmo com a necessidade de controle dos números e das cadeias e das ondas de contágio, não podemos nunca perder a (pouca) liberdade e individualidade que nos resta e teremos de lutar ferozmente contra quaisquer formas de a restringir que venham a ser impostas com carácter permanente. Recuso-me a aceitar várias coisas neste “novo normal” se não as encarar como passageiras. Recuso-me a aceitar que vou cumprimentar toda a gente com aquelas cotoveladas desajeitadas para sempre. Recuso-me a aceitar para sempre que vamos deixar de ter cultura com gente dentro e para ser partilhada. Recuso-me a aceitar que a afeição que tanto nos diz a nós, enquanto latinos, vai ter de desaparecer do mapa. Já não vou mais longe, mas tenho (genuínas) saudades de dar um caloroso aperto de mão a alguém. E isto, meus amigos… NÃO PODE MESMO ACONTECER!!
Por íncrível que pareça, e mesmo sabendo que muita convulsão, dor e angústia existirão ainda até que possamos colocar tudo isto na caixa do passado, vou mesmo terminar com aquela frase que, de tanta repetição, se tornou quase abominável…
Vamos Todos Ficar Bem!!
Vamos, porque confio que todos vamos voltar a Ser Humanos!!